sexta-feira, 28 de maio de 2010

Delicada relação


Já que possuímos culturas diferentes, nada mais natural que cada país construa seus próprios códigos dramáticos e lance olhares peculiares sobre determinados temas. Nesse sentido, o drama Pecado da Carne é um ótimo exercício sob o ponto de vista da diferença: narrativa, dramática, ideológica e religiosa. 

Para um público ocidentalizado, acostumado com os dramas e os melodramas do cinema hollywoodiano, o filme israelense pode parecer frio e distante. Afinal, mesmo tocando em um tema "polêmico" (odeio esse termo!), o longa não apela para o drama fácil ou às explosões dos personagens como forma de catarse. 

Dirigido por Haim Tabakman, o filme narra de forma contida a história de um judeu ortodoxo (Aaron), casado e com filhos, que se apaixona pelo seu ajudante (Ezri). Sem ter como foco principal a paixão ou o sexo em si, apesar de mostrar com certa delicadeza a forma com Aaron e Ezri se aproximam, se tocam e se amam, Pecado da Carne se detém mais nas consequências causadas pela relação entre os dois, já que ambos sofrem o preconceito e a desconfiança tão comuns às sociedades mais tradicionais, ou hipócritas, se preferirem.

Dos rumores no bairro, passando pelos olhares de reprovação em silêncio da esposa de Aaron, tudo fica mais subentendido do que propriamente dito. O espectador ocidental clama por gritos e lágrimas, Tabakman entrega um ritmo lento e emoções contidas. A tragédia aqui é mais internalizada do que propriamente verbalizada ou vivenciada.

Se os conflitos parecem ser evitados pela narrativa, o filme convence justamente por representar o olhar de uma sociedade conversadora e que vive baseada em duras condutas morais e religiosas. Não que o filme faça uso desse conservadorismo ou moral para se apoiar. Muito pelo contrário. Enquanto esse ponto de vista reacionário impregna as personagens, a direção de Tabakman não está aqui para julgar e deixa o espectador chegar às suas próprias conclusões. 

Duas comédias românticas


Dias do Namorados está chegando, estou um tanto carente, então nada melhor do que se jogar nas comédias românticas. Essa semana vi duas que deixei passar nos cinemas. A primeira é bem fraca: Idas e Vindas do Amor. Dirigida sem a menor empolgação por Garry Marshall ("Uma Linda Mulher"), o filme traz uma penca de belos rostos conhecidos fazendo absolutamente nada. 

Crente que poderia salvar seu filme apenas pelo carisma do elenco, que traz de Julia Roberts a Queen Latifah, Ashton Kutcher a Patrick Dempsey, Marshall não foge dos clichês do gênero e entrega um filme insosso e que nunca decola. O longa tenta, na verdade sem muito sucesso, emular o ótimo Simplesmente Amor e o já fraquinho Ele não está tão a fim de você. Nem o "casal gay" formado pelo Bradley Cooper e Eric Dane me animou.

Meryl Streep rocks!

Simplesmente Complicado é tudo de bom. Me arrependi de não tê-lo visto no cinema. Na verdade, vi o filme sem esperar muito coisa, mas me entreguei. Mesmo apelando para fórmulas, clichês e, às vezes, escorregando no piegas, o filme é uma delícia, graças, principalmente, ao trio de protagonistas. Meryl Streep, Alec Baldwin e Steven Martin compõem personagens adoráveis e estão se divertindo horrores.

Meryl dá uma show como uma mulher que nem se lembra mais o que é sexo e acaba se envolvendo com dois homens ao mesmo tempo: o incrivelmente barrigudo ex-marido (Baldwin, inspiradíssimo) e um arquiteto ainda traumatizado pelo divórcio (Martin bem mais contido do que de costume). A atriz está bem melhor do que em "Julie & Julia", produção pela qual foi indicado ao Oscar.

Com esse trio como carta na manga, a diretora Nancy Meyers tem muito pouco a fazer e entrega um longa redondinho, entretenimento puro, desses que flui que é uma beleza (ainda que o filme seja um pouco mais longo do que deveria). Acusada de elitista (seus personagens estão sempre envoltos em ambientes que exalam riqueza) e conservadora, Meyers filma com delicadeza e "Simplemente Complicado" se revela uma comédia romântica madura e bem acima da média. 

terça-feira, 25 de maio de 2010

Julianne Moore em suposto thriller sensual


Chega a ser constrangedor ver uma atriz do nível de Julianne Moore desperdiçando seu talento em algo tão medíocre quanto O Preço da Traição. A única razão que nos leva a crer que ela aceitou fazer o filme foi o simples fato de ter sido dirigida pelo cineasta egípcio, radicado no Canadá, Atom Egoyan, que já foi inclusive indicado ao Oscar ("O Doce Amanhã"). Mas a julgar pelo resultado da empreitada, a atriz fez uma péssima escolha.

Egoyan, supostamente achando que poderia deixar o filme nas rédeas de seus atores - além de Moore, Liam Neeson e Amanda Seyfried ("Mamma Mia") pagam mico aqui -, constrói um sub "Atração Fatal", um sub "Corpos Ardentes" ou um sub "Dormindo com o Inimigo", a depender das suas referências cinematográficas. "O Preço da Traição" nada mais é, então, do que um sub qualquer suspense de quinta que chama a atenção por causa da presença de atores conhecidos.

Para tentar minimizar o estrago, o diretor ambienta o filme em cenários luxuosos, sempre apontando a câmera em angulações classudas para seus personagens. A mise-en-scène bem composta só reforça a fraqueza da trama. O resultado final soa tão falso quanto os efeitos sonoros que acompanham os saltos-alto de Moore que pontuam todo o filme.

Mas as opções estéticas e o roteiro chauvinista nem chegam a ser o maior problema aqui. Se a produção se assumisse como um pastiche, até que o longa poderia passar incólume. Mas o pecado capital de "O Preço da Traição" é se levar a sério demais. Isso o joga direto no fundo do poço dos filmes medíocres. Da trilha musical pretensiosa, passando pela encenação sofisticada, tudo leva a produção para o buraco, e nem um thriller sensual, sexual ou coisa que o valha o longa consegue ser.  

domingo, 23 de maio de 2010

Três boas atrizes em filme esquecível




Charlize Theron
, Kim Basinger e Jennifer Lawrence até tentam, mas não conseguem salvar Vidas que se Cruzam do esquecimento. Não que o filme seja ruim, é apenas mais do mesmo. Dirigido por Guillermo Arriaga, a estreia do roteirista de "Amores Brutos", "21 Gramas" e "Babel", todos dirigidos por Alejandro González Iñárritu, repete as mesmas fórmulas e não decola simplesmente porque privilegia o esquematismo em detrimento das personagens, até interessantes. 

Como o óbvio título nacional nos informa (o original é "The Burning Plain"), o filme parte da premissa do entre-cruzamento da vida de várias pessoas. Ou seja, a mesma coisa que já vimos nos filmes dirigidos por Iñárritu, que possui um domínio narrativo e estético bem mais interessante do que Arriaga, o que de certa forma libertava os filmes das fórmulas ditadas pelo roteiro. Aqui os personagens vão e voltam no tempo, o que minimiza a intensidade das três performances das atrizes lá de cima, já que a estrutura fragmentária do filme parece ser mais importante do que o conflito vivido por elas.

Uma pena. Os pouco mais de três minutos do comercial da Nike dirigido por Alejandro González Iñárritu coloca todo o "Vidas que se Cruzam" no chinelo. Se é para manipular imagens e sons, vamos pelo menos manipular de verdade. 

sábado, 22 de maio de 2010

E nada de Imax, Alice não merecia mesmo!


Sim, esse blog ainda existe, apesar da preguiça. E ele vai acabar se tornando um blog sobre cinema mesmo. Mais um na multidão. Ou não, se eu me animar a escrever sobre outras coisas. Por enquanto, continuo sem ir muito ao cinema. O último que vi foi Alice no País das Maravilhas, sem dúvida o pior filme do Tim Burton, consegue ser mais fraco do que o remake de Planeta dos Macacos.

A ideia era ver o filme no Imax, mas todo mundo me disse para não ir. Ainda bem que segui os conselhos. O Imax é na puta que pariu virando a esquerda, é caro e o filme não valia a pena mesmo. Em "Alice", é tudo equivocado e pouco se salva. A narrativa e a dramaticidade são nulas, o que gera um envolvimento zero com a trama e as personagens. Johnny Depp se repete. Anne Hathaway se afunda em uma caracterização ridícula. Helena Bonham Carter é a única que acerta no exagero, mas não salva o filme do naufrágio. 

Nem o visual me empolgou. A direção de arte e os figurinos são caprichados, mas abandonam o tom geralmente lúgubre dos filme de Burton para apostar em um festival de cores alucinógenas e lisérgicas. Com tudo muito cansativo e chato, Alice no País da Maravilhas vai direto para a vala dos filmes esquecíveis.

Enquanto isso, no País dos videoclipes...

Finalmente, vi um produto audiovisual de impacto. E nem era um filme, nem precisei ir ao cinema para isso. O nome é Born Free e é o videoclipe novo da M.I.A., aquela cantora de rap com descendência indiana, ou algo parecido. Com pouco mais de nove minutos de duração, o clipe é uma porrada, vibrante e chocante, que juro que não sei se quero ver de novo. Dirigido por Roman-Gravas, filho do polêmico diretor grego Costa-Gravas, o clipe tem ritmo de filme de ação e, para o bem e para o mal, é de tirar o fôlego. Quem quiser se arriscar, o clipe segue abaixo. Eu não me arrisco.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Primeiras aventuras audiovisuais em Sampa - 2a. parte


Depois de Chéri, vi Tudo Pode Dar Certo, de Woody Allen. Amado por alguns, odiado por muitos, Allen é um dos poucos cineastas que pode colocar seus personagens dizendo que Deus é um decorador gay, sem ser apedrejado. Tudo Pode Dar Certo segue a linha de filmes mais neuróricos de Allen, que volta a filmar em Nova York, seu cenário predileto, depois de uma incursão de filmes pela Europa, Londres e Madri mais precisamente. Boris, o protagonista vivido por Larry David, é o típico personagem alleniano: chato, falastrão, preconceituoso, reclamão, hipocondríaco e tudo mais. 

Filmado de modo convencional, característica do cinema de Allen, o filme se destaca pelos diálogos inspirados e atores sempre em sintonia. Só mesmo Allen para colocar um dupla tão improvável como David e a bela Evan Rachel Wood como um casal "romântico" e tirar proveito disso. A química entre os dois é sensacional e garante boa parte das piadas do longa. Não chego a ser um grande fã de Woody Allen, mas admito que o diretor sabe como ninguém explorar as neuroses do ser humano. Longe da Europa e dos assassinatos misteriosos que dominaram seus últimos filmes (Match Point, Scoop, Cassandra's Dream), o cineasta continua fazendo o mesmo cinema de sempre. Mas e daí, ele consegue fazê-lo muito bem.

Homem de Ferro 2

Nem só de filmes-cabeça se vive o homem, então sempre que possível abraço os blockbusters sem preconceito. Como ainda não tive disposição para ir ver Alice no País das Maravilhas no Imax, lá longe aqui de casa, acabei assistindo ao barulhento Homem de Ferro 2, que estreou no Brasil antes mesmo do que nos Estados Unidos. Eu confesso que achei o primeiro um bom filme, nada demais. Nem me empolguei muito para assistir a essa continuação, mas, sei lá, vi porque no cinema que fui não tinha mais nenhum outro filme que me empolgasse. Achei divertido como o primeiro, mais bem amarrado, com melhores vilões. Mas é isso, não bateu de modo marcante. Acho que a culpa é mais minha do que do filme em si. Tenho ficado cada vez menos nerd com o passar da idade, o que me faz pensar que tenho tudo para ser um personagem chato dos filmes de Woody Allen quando ficar mais velho.

Primeiras aventuras audiovisuais em Sampa

Um dos motivos que me fez migrar de Fortaleza para São Paulo foi a variedade cultural proporcionada pela segunda, já que a falta dela me incomodava muito na primeira. Ou seja: filmes que demoram meses para entrar em cartaz, quando entram, shows bacanas que nunca aportam por lá, exposições etc., etc., etc. Pode ser um motivo um tanto superficial para alguns, mas não é para mim. 

Chéri

Bem, nessas primeiras semanas em São Paulo, infelizmente, explorei muito pouco essa vantagem, mas assisti a algumas coisas. Primeiro, finalmente vi Chéri, com Michelle Pfeiffer. O filme até já tinha sido exibido em Fortaleza, mas eu estava trabalhando em Tiradentes justo na semana em que ele ficou em cartaz. Acabei vendo em um cinema de quinta aqui pela Paulista, desses super com cara de anos 1990: projeção vagabunda e poltronas vermelhas com um material que tenta imitar couro. O filme é bacana, mas achei a direção e a edição um tanto desleixadas. Mas tem Michelle e ela sofre por amor, aliás, como em todo filme de época que a atriz faz, vide Ligações Perigosas e A Época da Inocência. Entre figurinos deslumbrantes e direção de arte caprichada, o destaque vai mesmo para a cena final: um close bastante revelador e desconcertante do rosto de Pfeiffer.  

quinta-feira, 6 de maio de 2010

It's aliveeee!!!

Sim, eis que nasce um blog. Sempre fui contra blogs, orkuts, twitters, facebooks e afins. Mas inventei de fazer um curso de jornalismo on-line, então só resta me render às redes sociais e às novas tecnologias de comunicação. Sim, blog não tem mais nada de novo, mas deixa eu pensar que tem. Uma coisa é certa: depois de criar um twitter e um blog, o próximo passo é uma hecatombe nuclear em escala mundial. Mas tudo pode ficar bem, já que a probabilidade disso aqui virar mais um punhado de lixo no ciberespaço é grande. Ou não? Posso surtar, ficar viciado e levar isso a sério. Vai saber? Só quem acompanhar as cenas dos próximos capítulos é que vai saber. Enquanto isso, o Pensamentos fabiofreireanos será sobre mim e tudo o que gosto, ou o que não gosto, mas curto falar sobre.