domingo, 28 de novembro de 2010

Três vezes Piranha


Sempre gostei de filmes de terror. E também sempre tive uma tendência a querer ver coisas classificadas como trash, mesmo muita gente não entendendo essas minhas vontades. Aproveitando então a estreia do remake de Piranha (que, infelizmente, perdi de ver em versão 3D nos cinemas), resolvi rever os clássicos trash cults lançados em meados dos anos 1980. Já tinha vistos os filmes quando adolescente, mas não lembrava nada deles, apenas de que eram bem ruins.

Claro que ambos continuam ruins, mas até que são divertidos. O primeiro Piranha, dirigido por um desconhecido Joe Dante (que depois ficaria famoso com os dois Gremlins), é uma cópia descarada de "Tubarão", de Steven Spielberg, mentor de Dante, aliás. Com poucos recursos, efeitos de quinta e uma trama batida e cheia de furos, o filme tem como maior destaque os efeitos sonoros e as sombras utilizadas para representar as piranhas, que sabiamente são pouco mostradas.

Por incrível que pareça, Piranha 2 - Assassinas Voadoras é melhor que o primeiro. Apresentando James Cameron como diretor (depois ele estouraria com O Exterminador do Futuro), o filme é quase uma cópia do primeiro, com o adendo de as piranhas voarem (!!!). O elenco é primário (com direito a um clone oitentista do Bradley Cooper), e a trama é estapafúrdia, mas Cameron já dava indícios de saber o que fazer com uma câmera, construíndo uma narrativa tensa e que segura a atenção.

Os dois longas, lançados em 1978 e 1981, viraram cult e estão mais para trash do que para filmes de terror propriamente dito. Já o remake é uma decepção: os efeitos são melhores, óbvio, mas o tom apelativo e moralista não ajuda. Abraçando sem pena o camp, um dos grandes defeitos da produção é a pretensão de querer ser um cult. Entre muitos peitos e uma edição acelerada, o longa de Alexandre Aja fracassa por exagerar na sua tentativa de não se levar a sério.

Nem o elenco um pouco mais conhecido ajuda: dá pena ver Elisabeth Shue se prestando a ser heroína em filme de quinta; já Christopher Llyod meio que reprisa o papel de cientista maluco que o fez famoso na trilogia De Volta para o Futuro; e Ving Rhames e Richard Dreyfuss não fazem absolutamente nada a não ser virarem comida de piranha, o que convenhamos é muito pouco.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Crise financeira e triângulo amoroso


Tentando pescar mais filmes da 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, acabei vendo dois exemplares bem distintos de longas que buscam propostas diversas. Um documentário que tenta explicar a crise financeira que acometeu o mundo em 2008 e uma ficção metida a moderna sobre dois amigos - um rapaz e uma garota - que se apaixonam pelo mesmo garoto.

Trabalho Interno (Inside Job) é aquele típico filme que funciona como um tapa na cara de nossa sociedade hipócrita e mesquinha. Tentando elucidar e contextualizar a crise mundial que se abateu sobre o mundo em 2008, o documentário de Charles Ferguson aposta em uma linguagem didática e ágil para explorar um tema complexo e inacessível para grande parte da população. Por meio de vários depoimentos, Ferguson faz uma análise histórica, econômica e política do mercado financeiro estadudinense, jogando luz na podridão que consome um sistema apoiado no lobby.

Sem direito a final feliz, o fime encerra mostrando uma perspectiva negra e só peca ao adotar um tom panfletário e heróico que não condiz com o que acompanhamos anteriormente. Como curiosidade, o documentário é narrado por Matt Damon, fez sucesso em Cannes e é uma das apostas para o Oscar da categoria em 2011.

Os Amores Imaginários segue caminho contrário e aposta em um viés mais poético para narrar os conflitos entre dois amigos (Maria e Francis) que se apaixonam pelo mesmo rapaz (Nicolas). Bonitinho e ingênuo, "Os Amores Imaginários" é dirigido, roteirizado e protagonizado pelo jovem canadense Xavier Dolan, que, aqui, repete os mesmos cacoetes do anterior "Eu Matei Minha Mãe".

No alto dos seus 22 anos de idade, Dolan faz um cinema para modernete ver, apostando em cores, músicas e em uma mise-en-scène quase barroca. É um cinema divertido, mas de certa forma ingênuo e um tanto caricato. Se sobra autenticidade nos personagens, falta no esquematismo de citações e interferências visuais que deixam tudo muito bonito, mas meio oco.

Emulando Almodóvar e suas cores vivas, Wong Kar-Wai e seu apreço pela cenografia, além da forma quase coreográfica com que filma atos banais, Dolan ainda paga pau para a Nouvelle Vague e sua aura intelectualóide. Tudo filmado em uma bela embalagem de encher os olhos e com direito a um pretensão que até faz bem ao filme.

"Os Amores Imaginários" é cinema para cult ver. Está longe de ser ruim, mas não deixa de ser um tanto redundante (o excesso de câmera lenta chega a incomodar, e os depoimentos são engraçados, mas só quebram a narrativa e pouco acrescentam) depois do bem mais interessante e original "Eu Matei Minha Mãe".