segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Machete will kill again

Quentin Tarantino e Robert Rodriguez criaram uma marca, um estilo bem próprio de fazer cinema. Tarantino com um senso estético e narrativo mais apurado, Rodriguez um tanto mais relapso e descompromissado. Mas ambos apostam em um cinema pop, meio sujo e pé no chão, cheio de referências e pedindo para ser cult. Algumas vezes a fórmula funciona, outras, mostra-se mais cansativa.

Machete, novo trabalho de Rodriguez, fica no meio do caminho. Por um lado, é cinema de entretenimento, divertido pacas, trash no melhor sentido do termo; por outro, tenta a todo custo ser cool e acaba enchendo um pouco a paciência. A começar pela própria origem do filme (derivado de um falso trailer exibido no projeto "Grindhouse", da dupla Tarantino-Rodruiguez), tudo é tão calculado para ser nerd que o longa perde um pouco o foco, e Rodriguez exagera na dose.

Rodriguez, apesar de tentar, também não é nenhum Tarantino, e o que poderia ser um filme cheio de imagens icônicas e possibilidades narrativas se contenta apenas em ser uma produção divertida, vagabunda e com muito sangue e membros decepados. Nada contra. Mas Tarantino sabe fazer isso com mais embasamento, até mais embasamento cinematográfico, seja lá o que isso signifique. Rodriguez coloca uma câmera lenta aqui, outra acolá, faz muita piada com tudo e acha que isso já é o suficiente para ganhar o público.

Nos resta então aproveitar o que o filme tem de melhor a oferecer. O humor escrachado, a ação descelebrada e o elenco nonsense. Danny Trejo é o protagonista perfeito para esse tipo de filme. Robert De Niro, Jessica Alba e Michelle Rodriguez emprestam o carisma ao longa. Lindsay Lohan brinca com sua persona. E Steven Seagal, Don Johnson (da série "Miami Vice") e Jeff Fahey (de "O Passageiro do Futuro", alguém lembra?) são resgatados do limbo dos atores esquecidos.

Quanto à trama, para variar, envolve vingança. O resto é detalhe...


sábado, 11 de dezembro de 2010

Cinema claustrofobia

Se o mundo fosse justo, Enterrado Vivo ganharia destaque e não seria apenas mais uma estreia curiosa no circuito. Se o mundo fosse realmente justo, o filme teria, inclusive, chances de levar pelo menos indicações ao Oscar de melhor roteiro original, fotografia e, por que não, ator para Ryan Reynolds. Mas o mundo está longe de ser justo, então o longa está tendo um lançamento pequeno e sem muita repercussão.

Mesmo não sendo um filme perfeito, não se pode negar que Enterrado Vivo seja acima de tudo uma produção corajosa. Com uma história simples (mas cheia de leituras), o longa traz uma trama inusitada. O personagem de Reynolds acorda enterrado dentro de um caixão, com apenas um isqueiro, uma lanterna e um celular. Depois descobrimos que ele é um motorista de caminhão e está no Iraque, tendo sido sequestrado por bandidos/terroristas que exigem um resgate em dinheiro.

A partir daí, o diretor espanhol Rodrigo Cortés constrói um filme tenso e claustrofóbico que coloca todo seu peso sob os ombros de Ryan Reynolds. "Enterrado Vivo" dura cerca de uma hora e meia e se passa todo dentro do caixão, sem nenhum tipo de alívio para o espectador, que experencia a mesma sensação de Reynolds, preso em um espaço pequeno, apertado, com pouco ar e sem iluminação (metaforicamente quase remetendo à sala escura do cinema).

Se o ator é quem segura a onda e torna a história plausível para o espectador, Cortés toma as decisões certas e não hesita em mostrar longos planos escuros no qual só ouvimos o que acontece e fotografar o filme apenas com as luzes dos objetos que Reynolds tem em mãos (o isqueiro, a tela do celular, uma lanterna e dois sinalizadores).

O resultado é um filme intenso, que passa longe de ser arrastado ou tedioso, e que ainda lança uma série de críticas ao sistema americano: seja à política de resgate do exército americano, que se recusa a negociar com os sequestradores/terroristas, seja ao modo como a empresa que contrata Reynolds lida com a situação.

Filmado sem grandes concessões, o filme só perde um pouco do impacto no final, quando o diretor se alonga demais para concluir o longa e acaba apostando em resoluções um tanto apelativas. A impressão que fica é que Cortés gostou demais da ideia da produção e não soube abrir mão de situações que não agregam nada à trama.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Rede Social e outros filmes...

David Fincher é o cara. O diretor começou a carreira fazendo comerciais e ficou famoso comandando videoclipes de gente como Madonna (Vogue e Express Yourself são dele), Paula Abdul, Rolling Stones, Aerosmith e outros. Depois migrou para o cinema e, se não virou um dos melhores diretores contemporâneos, concebeu pelo menos duas obras-primas cinematográficas dos anos 90 (Seven e Clube da Luta). Dono de um estilo visual bastante peculiar e com um olhar narrativo apurado, Fincher virou referência e sinônimo de ousadia.

Não é de estranhar que A Rede Social seja um belo exercício cinematográfico. O filme, que narra a fundação de uma das maiores e mais importantes redes sociais da atualidade (o Facebook), tinha tudo para ser chato e desinteressante para que não é familiar ao assunto. Mas com um roteiro perfeito em mãos e um elenco jovem e atuando na medida, Fincher deixa um pouco de lado um olhar mais estilizado e aposta na história, construindo um longa envolvente e que prende a atenção unicamente pela trama.

Claro que as estripulias estéticas comuns ao diretor estão presentes (a edição vai e volta no tempo; a fotografia remete a seus trabalhos anteriores, com cores menos vivas e uma aura quase cirúrgica e clean; os enquadramentos procuram fugir do convencional; a trilha sonora é peça chave etc.), mas aqui elas são menos, e A Rede Social funciona por ser um ótimo exercício narrativo, vigoroso e passional. Entre traições, intrigas e muitas acusações, os personagens são a mola-mestra do longa.

E se algo pesa contra o filme, são os próprios personagens e a forma como a produção as coloca em primeiro plano que pode diminuir um pouco seu valor. Mesquinhos, sem escrúpulos e pretensiosos, eles querem mudar o mundo e acabam se tornando figuras pouco carismáticas aos olhos do público. Ainda que isso resulte em um distanciamento (é difícil criar empatia por alguém), o longa busca outras formas de envolver o espectador (seja pelo roteiro brilhante cheio de diálogos aguçados, seja simplemente pela honestidade com que os personagens são representados pelo elenco). O resultado é um filme ágil, moderno e impactante. A prova que hoje em dia é possível sim fazer cinema para gente grande.

Um assassino melancólico - George Clooney sempre me pareceu um ator limitado e que conquistava mais pelo carisma do que propriamente pelo talento. Depois de boas atuações em Conduta de Risco e Amor Sem Escalas, o ator volta a demonstrar competência mais uma vez no interessante Um Homem Misterioso, filme de espionagem contemplativo e com ares de produção europeia. Dirigido pelo renomado fotógrafo e diretor de clipes Anton Corbijn, Um Homem Misterioso ousa por não adotar o ritmo imposto pelos filmes de Jason Bourne ou James Bond e apostar mais na caracterização do personagem principal. Mesmo tendo uma trama que não vai a lugar algum, o filme é bem dirigido e bonito de se ver.

Um Woody Allen menor - Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos é um dos piores trabalhos de Woody Allen. Mal dirigido e com um bom elenco desperdiçado (Naomi Watts, Anthony Hopkins, Josh Brolin etc.), o filme é repetitivo e traz um dos roteiros menos inspirados do cineasta. Arrastado e sem muito propósito, o filme começa sem dizer a que veio e termina quase como se tivesse sido abandonado pelo diretor. O universo é aquele mesmo típico de Woody Allen, só que agora menos interessante, mais chato e com sotaque britânico.

Tropa de Elite 2 - O filme pode ser acusado de fascista e o que for, mas não dá para negar que é um dos melhores exemplares do cinema nacional, mostrando que a gente pode sim fazer coisas de qualidade. José Padilha é nosso Oliver Stone, sabe manipular como ninguém e construir teorias e mais teorias por meio de imagens e de sons. E que imagens e sons... Tropa de Elite 2 é filmado com sabedoria e traz cada peça no lugar: do roteiro preciso, passando pelas atuações viscerais e chegando à produção caprichadíssima, o filme é quase a redenção do cinema nacional. José Padilha não tem o menor pudor em dar um soco no estômago do espectador e cuspir na cara dos cineastas brasileiros que ao invés de apostar em um bom cinema perdem tempo tentando fazer teses audiovisuais sem sentido. Não é a toa que o filme virou o exemplar mais visto do nosso cinema.