sábado, 29 de janeiro de 2011

Minha vida virou uma cabine

Para quem não conhece esse jargão, cabine é uma sessão de cinema fechada para jornalistas, no qual, geralmente, são exibidos filmes ainda inéditos e prestes a entrar em cartaz para a avaliação da imprensa. Ir a cabines é praticamente só o que tenho feito ultimamente. Então, eis alguns textos completos de filmes que assisti nessas sessões fechadas. Um modo de compilar esses textos, publicados no site Cinema com Rapadura, em um lugar só, já que são resenhas mais bem elaboradas do que as que eu escrevo aqui nesse blog.

Além da Vida - mistura de produção espírita com filme mosaico, Clint Eastwood entrega um trabalho irregular que passa longe de despertar alguma emoção no espectador. Leia texto completo.

Amor e Outras Drogas - misto de comédia romântica com dramalhão, funciona muito bem graças à química perfeita entre os belos e talentosos Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway. Leia texto completo.

Inverno da Alma - indicado a quatro Oscar, inclusive melhor filme, esse thriller indie tem como maior mérito a interpretação carismática de Jennifer Lawrence, indicada a vários prêmios de melhor atriz mundo afora. Leia texto completo.

Tron O Legado - se o primeiro envelheceu mal pacas, sua continuação se sustenta graças a um visual belíssimo e a uma trilha musical sensacional, cortesia do duo francês Daft Punk. Leia texto completo.

Um Lugar Qualquer - Sofia Coppola volta ao terreno seguro, mas sem o mesmo brilho de "Encontros e Desencontros" nesse filme que confunde vazio existencial com vazio narrativo. Leia texto completo.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Biutiful

No cinema de Alejandro González Iñárritu, desgraça pouca é bobagem. Os personagens de seus filmes costumam comer o pão que o diabo amassou, sofrem de doenças, enfrentam mortes, trapaças, dores e amores. Choram e entram em desespero. É um cinema de sofrimento em alto e bom som.

A diferença entre Biutiful e os trabalhos anteriores de Iñárritu é que, se antes ele dividia esse sofrimento entre vários personagens e linhas narrativas, aqui o foco é um só e bem linear: Uxbral, um médium que vive de explorar imigrantes ilegais em Barcelona. Valendo-se do lema "diga-me com quem andas que te direi quem és", Uxbral não é flor que se cheire e vive rodeado por policiais corruptos e chineses exploradores.

Seguindo a lógica do "aqui se faz, aqui se paga", Uxbral descobre que está com um câncer terminal e se vê na berlinda ao não saber o que fazer com os dois filhos pequenos, já que a mãe deles não é uma pessoa confiável.

Diante da tragédia anunciada, Iñárritu não poupa o espectador e, para variar, pesa a mão transformando a dor em belas imagens. Ninguém filma o mundo cão com tanto apuro estético quanto o cineasta mexicano. Para alguns, um grande elogio; para outros, a prova de que Iñárritu é um diretor de uma nota só.

Mas, mesmo sendo especialista nesse tipo de filme miserável, o diretor faz uso de metáforas desnecessárias (as borboletas que tomam conta do teto mofado do quarto de Uxbral) e de uma câmera hiperbólica sempre em busca de imagens que reforcem o sofrimento e a desgraça humana. Iñárritu vê certa beleza na dor, e seu cinema segue a mesma linha, nem sempre sabendo quando parar, daí a excessiva duração de 147 minutos de mazela atrás de mazela.

Longe da influência de Guillermo Arriaga, roteirista de seus filmes anteriores (Amores Brutos, 21 Gramas e Babel), Iñárritu se vê solto e, em "Biutiful", fica ainda mais à vontade para dirigir demais o que poderia muito bem ser simples e direto.

Se tal característica do diretor muitas vezes impede o filme de estabelecer uma conexão maior com o espectador, por outro lado, temos Javier Bardem entregando uma interpretação sensível e cheia de emoção. Uxbral pode não ser exemplo de melhor ser humano, assumindo até uma postura passiva em relação à sua inevitável morte, mas Bardem nos faz olhar para o personagem com compaixão e ternura. Um alento dentro de um filme pesado e quase masoquista no forma como explora a dor e as mazelas da vida.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Um Lugar Qualquer

Em determinado momento de Um Lugar Qualquer, o ator Johnny Marco chora ao telefone dizendo que não é nem mesmo uma pessoa. Pessoa ele pode até ser, mas Johnny Marco, vivido com delicadeza por Stephen Dorff, não chega a ser um personagem, não na acepção clássica que conhecemos. Até a chegada desse momento, quase no final do filme, ele não vive dramas, nem conflitos e passa de forma contemplativa pela tela. Um Lugar Qualquer vira assim um filme sobre o nada, um amontoado de cenas desconexas que, supostamente, quer mostrar o vazio existencial da vida de uma celebridade.

A sorte do filme é que ele é dirigido por Sofia Coppola, uma cineasta que filma o nada como poucos. Com um olhar apurado e delicado, Coppola vai compondo as cenas do longa de modo minimalista e distante. Nada é realmente emocionante e a interação dos dois "personagens" principais (o ator e a filha, vivida pela carismática Elle Fanning) com o mundo é mínima. "Um Lugar Qualquer" vira assim um filme para dentro. Uma investigação sobre o interior dessas duas pessoas. O problema é que Coppola confunde vazio existencial com vazio narrativo.

Alguns podem clamar que "Um Lugar Qualquer" é uma repetição sem o mesmo brilho de Encontros e Desencontros. Outros podem defendê-la afirmando que essa é sua postura temática e estética. Ambos podem estar certos. "Um Lugar Qualquer" é derivado de "Lost in Translation", mas sem a mesma honestidade e originalidade. O filme mantém, sim, a mesma estrutura esporádica e não causal do longa mais famoso de Coppola, mas, aqui, a cineasta parece se perder em uma postura mais blasé que acrescenta muito pouco ao trabalho.

É uma pena. Mesmo com todo talento de Coppola na direção, falta à produção um rumo. Mesmo com toda a competência dos atores, falta ao filme emoção. Mesmo com toda a pompa e blábláblá (o filme foi o grande vencedor do Festival de Veneza do ano passado), o longa carece de cenas fortes e bem conduzidas. Nem mesmo a trilha musical, uma das características mais marcantes da filmografia de Sofia, ganha destaque aqui. Mesmo com toda a beleza da composição das imagens, a ausência de um roteiro mina as boas intenções da diretora, que parece muitas vezes deslumbrada com seu próprio universo, apostando em longos planos vazios de significado. A melancolia peculiar das obras da diretora é até visível e presente no filme, mas em nenhum momento nos toca de verdade. E isso faz toda a diferença.

"'Um Lugar Qualquer' é um bom filme porque, mesmo que narrativamente oco, mantém a coesão de um trabalho autoral", dirão alguns. Mas o longa começa e termina e não diz muito a que veio. "'Um Lugar Qualquer' é um bom filme porque, mesmo errando a mão, Coppola, ainda assim nos instiga", afirmarão outros. Mas a verdade é que "Um Lugar Qualquer" não leva a lugar nenhum.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Dieta Mediterrânea

Existe toda uma tradição de filmes gastronômicos, desses que usam a gastronomia como metáfora para os sentimentos dos personagens: "A Festa de Babette", "Como Água para Chocolate", "Julia & Julie" e por aí vai... O espanhol Dieta Mediterrânea é apenas mais um na multidão e não acrescenta muita coisa a esse tipo de produto. Em ritmo de novelão, o longa demora a acontecer e quando acontece, perde logo a graça.

Em uma cidadezinha qualquer da Espanha, acompanhamos Sofia desde pequena, quando no restaurante dos pais, começa a descobrir seus talentos culinários. Entre um prato e outro, ela se envolve tanto com Toni quanto com Frank. Um vira marido, o outro, amante. E em algum momento, os três vão juntos para a cama e formam um interessante triângulo amoroso. Essa é a melhor parte do longa, quando os três ótimos atores (Olivia Molina, Paco León e Alfonso Bassave) demonstram química, e o filme ganha impulso.

Mas até que isso aconteça, é muito lenga lenga. E a direção nada empolgante de Joaquín Oristrell também não ajuda. Além do filme trazer uma péssima narração em off totalmente inadequada, Oristrell dirige demais o que poderia ser simples e mais eficiente. Entre efeitos de edição de quinta e um ritmo frouxo, Dieta Mediterrânea se perde e se arrasta mais do que deveria.

Ainda assim, a química entre Molina, León e Bassave se destaca e consegue impor certa dignidade ao longa, principalmente quando o equilíbrio entre o triângulo começa a ruir. Talento, carisma e beleza podem salvar um filme do desastre, e "Dieta Mediterrânea" é a prova disso. Não que a produção seja ruim, alguns situação são bem engraçadas e outras dramaticamente satisfatórias. O problema é que tudo cai por terra graças à falta de alguém mais talentoso no comando do filme.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

2010: os melhores - parte II

A pedidos (na verdade, a um pedido dessa moça aqui), eis a segunda parte do melhor que vi em 2010: categoria seriados.

Eu já fui viciado em seriados, assistia vários, comédias, dramas, romances. Junto com a Felicity, era apaixonado pelo Ben e pelo Noel. Me distraí com as aventuras e desventuras de Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte em Sex and the City, sempre sonhando com as ruas, as baladas e festas e os homens de Manhattan. Achava Dawson uma graça, apesar de chato. Torcia por Will e pela Grace. Ria das bobagens de Friends e That 70's Show. E mais tantos outros, que não lembro, não marcaram muito ou vi apenas alguns episódios perdidos. Isso sem falar nos seriados da infância e adolescência, dos anos 80 e 90 ("MacGyver", "Dama de Ouro", "Anjos da Lei", "Alf, o ETeimoso", "Barrados no Baile", "Melrose Place" e por aí vai).

Mas o tempo passa, o tempo voa e a vida muda. Deixei os seriados de lado e me entreguei a outros vícios (que não mencionarei aqui porque esse é um blog de família). A falta de uma TV a cabo e o desconhecimento das maravilhas que um torrent pode fazer por você ajudaram, claro. Mas devo confessar que, do nada, ficar acompanhando personagens anos a fio me cansou um pouco. Resolvi deixar de viver a vida dos/pelos outros e fui viver a minha. Quebrei um pouco a cara, fato, mas tudo bem.

Em 2010, porém, tudo mudou e voltei a me fascinar por seriados. Deixei novos personagens entrarem na minha vida sem medo e abracei alguns seriados com todas as forças do meu ser. Foram poucos, é verdade, ainda tenho todo um potencial e séries a serem explorados. O tempo ocioso está aí para isso.

A primeira série que me arrebatou foi Dexter. Sim, a série existe há um bom tempo, mas só em 2010 fui conhecê-la. Me apaixonei por Dexter, um serial killer de serial killers. Drama, suspense, um pouco de ação e comédia em tramas cheias de reviravoltas rechearam temporadas que foram num crescendo que alcançaram o ápide da dramaticidade e da perfeição no chocante episódio final da 4a. temporada. A 5a. temporada teve alguns tropeços, mas seguiu firme criando novas situações para Dexter e apresentando todo um novo lado do personagem até então desconhecido. Bem escrita e dirigida e com um elenco perfeito liderado por um Michael C Hall de matar, Dexter pavimentou todo um caminho para eu me entregar aos seriados novamente.

True Blood não deixou por menos e me fez esquecer toda a baboseira de vampiros adolescentes, virgens e chatos daquela saga cinematográfica ridícula que prefiro não mencionar o nome. Os vampiros de verdade estão na tevê (esqueçam "The Vampire Daries"). E eles são sexies, lindos, matam, fazem sexo e mordem sem pena (Bill, o lindo Stephen Moyer, por exemplo, poderia me morder de manhã, de tarde e de noite). Partindo de uma premissa muito bem sacada (vampiros e humanos convivem em uma sociedade "pacificamente"), True Blood mistura vampiros, lobisomens, metamorfos, fadas, sangue artificial, peitos e bundas e fez minha alegria em 2010.

No quesito comédia, tenho pouco a dizer. Confesso que prefiro o drama à comédia, as lágrimas aos risos, pelo menos audiovisualmente. Comecei a ver Glee e me deixei levar pela mistura de estilos musicais e referências pop do seriado. A primeira temporada tem episódios sensacionais (o da Madonna é apenas um deles), momentos mágicos que casam música pop e imagem à perfeição (a releitura dos clipes de Vogue e Physical são exemplos) e personagens carismáticos (Sue Sylvester é um tapa na cara dos hipócritas). A segunda temporada perdeu um pouco o brilho, e a série virou um pastiche de si mesma, usando citações só por citar e virando um panfleto contra o bullying.

Hung não chega a ser uma comédia no sentido clássico e aposta em uma pegada mais agridoce. A trama, absurda de original e ousada, gira em torno de um quase quarentão fracassado, divorciado e pai de dois filhos que descobre que seus "dotes" podem render dinheiro. Criada por Alexander Payne, dos ótimos filmes "Eleição" e "As Confissões de Schmidt", a série equilibra humor e drama e traz uma química perfeita entre Thomas Jane (o 40tão dotado) e Jane Adams (sua "cafetina"). Roteiro esperto e ironia na medida elevam Hung a um outro patamar. A série conquista aos poucos e ainda traz Anne Heche como a ex-mulher de Jane.

Mas, talvez, o seriado que mais me surpreendeu tenha sido The Walking Dead. Zumbis sempre foram utilizados como metáforas, seja do que for, desde dos tempos de George Romero. A novidade de The Walking Dead não está aí, mas sim em colocar esses personagens no centro de uma trama televisiva. Ecos de Extermínio e o remake de Madrugada dos Mortos, dois dos filmes que ressuscitaram os zumbis para os novos tempos, podem ser visto aos longos dos seis episódios da primeira temporada, mas isso nem de longe é um demérito. The Walking Dead tem sua cota de originalidade e mostra um mundo sem esperança e cercado de zumbis por todos os lados. Criada por Frank Darabont a partir de uma HQ homônima, a série mostra um grupo de pessoas tentando sobreviver aos caos e tendo que lidar com zumbis e os próprios seres humanos em constante estado de tensão em uma situação-limite (Darabont fez uma obra-prima com situação semelhante no excepcional "O Nevoeiro").

Em 2011, novas temporadas começam: "True Blood" inicia a 4a temporada; "Dexter" vai para a sexta, provavelmente a última; "Hung" tem a 3a temporada garantida; "Glee" termina a segunda; e "The Walking Dead" ganha uma segunda temporada com 13 episódios. Novas séries surgirão, outras acabarão. Quero ver 'The Big C", conhecer "United States of Tara', finalmente me entregar a "Mad Men"... Duas coisas são certas: os torrents estão aí e a banda larga é a melhor amiga do homem.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Primeiro que Disse



Cinema italiano não é para todo mundo. Quer dizer, pelo menos se for aquele cinema italiano clichezão, cheio de gente falando alto e ao mesmo tempo e explorando o esteriótipo do italiano barulhento, católico, apostólico, romano e preconceituoso. O Primeiro que Disse segue exatamente essa linhas, mas mesmo assim fui lá assistir. Provavelmente pela temática.

O filme narra a história de Tommaso, jovem bonito e bem sucedido que saiu do interior e foi estudar na capital. Em uma de suas idas à casa da família, Tommaso (interpretado pelo clone mais bonito do Domini, aquele rapaz que já ganhou um BBB) decide revelar que é gay. Mas antes o faz para o irmão mais velho. Ele só não esperava que o irmão roubasse sua ideia e revelasse sua homossexualidade aos pais em um jantar de negócios, deixando o rapaz sem muita opção a não ser mudar seus planos.

A partir dessa interessante premissa, O Primeiro que Disse lança um olhar sobre os preconceitos arraigados da típica e tradicional família italiana, mostrando-se um passatempo divertido, mas que não vai muito além. Culpa da direção de Ferzan Ozpetek, que nunca se decide se o filme vai ser um drama ou uma comédia.

A profusão de personagens e a tentativa do diretor de dar estofo a cada um deles também não ajudam, e "O Primeiro que Disse" acaba perdendo força ao apostar em histórias paralelas pouco interessantes e que nunca se desenvolvem (os flashbacks do passado, o suposto romance entre Tommaso e a filha doidinha do sócio da família, a tia destrambelhada, a vinda dos amigos de Tommaso à cidade e por aí vai...).

Entre uma pegada mais divertida e um tom por vezes melancólico, "O Primeiro que Disse" peca ao apostar em clichês gays (os amigos de Tommaso, por exemplo, não podiam ser mais caricatos) e héteros (o fato do patriarca ter uma amante e a matriarca saber até funciona para reforçar a hipocrisia da família, que não aceita a homossexualidade de Antonio, o irmão mais velho, mas não deixa de ser uma saída fácil).

"O Primeiro que Disse" é então uma comédia pastelão que fica na promessa. A gente ri, se diverte com algumas boas piadas e situações, mas fica aquela sensação de que o filme podia ser bem mais. Sensação agravada pela duração mais longa do que necessário (às vezes fica a impressão que Ozpetek não quer terminar o filme e fica criando novas situações) e pelo final que mistura presente e passado de modo totalmente sem sentido.

sábado, 8 de janeiro de 2011

2010: os melhores - parte I

2010 foi um ano de transformação, de passagem. Entre idas e vindas, um sonho virou realidade, os amigos e a família ficaram distantes. Foi um ano de desapego, de deixar a segurança e o conforto de lado e apostar no arriscado. Se fui bem-sucedido ou não, só o tempo vai dizer. Entre um pouco de medo, solidão, esperança, desejos e vontades, 2010 foi mais um ano de ver filmes, ir a shows, ouvir músicas e conhecer bandas, me apaixonar por seriados...

Enquanto 2011 não diz a que veio, eu digo o que eu vi e ouvi de melhor em 2010. É uma seleção pessoal e intransferível, sem a menor pretensão de dizer que isso é melhor do que aquilo. É o melhor para mim, sem pretensões estéticas, históricas ou o que for. Ponto. Foram momentos especiais para mim, que me tocaram, alegraram, me deixaram triste, melancólico, nostálgico, ora feliz, ora cinza.

Filmes
Tenho visto cada vez menos filmes. Compro DVDs e os deixo guardados na estante. Baixo filmes e os deixo ocupando espaço no HD. Vou cada vez menos ao cinema, sempre selecionando o que realmente eu vou achar bom, o que me interessa. Tenho me arriscado menos e menos a descobrir novos cineastas, cinematografias diferentes, estéticas novas. A questão da grana pesa, claro, mas acho que é mais um comodismo cinematográfico mesmo.

Entre o pouco que vi esse ano, destaco A Rede Social. Um filme que tinha tudo para ser chato, mas é um achado nas mãos hábeis de David Fincher, um cineasta que é cara dos anos 1990 ("Seven" e "Clube da Luta' estão entre os melhores desta já distante década), mas não ficou parado no tempo.

No quesito "caralho, o que é isso!", vale lembrar de A Origem (resenha aqui), filme para ser visto em tela grande, com a trilha sonora de Hans Zimmer gritando no último volume. Cinema quebra-cabeça. Cinema ousado. Cinema para gente grande. Muita gente amou. Muita gente odiou. E Christopher Nolan, mais uma vez, fez o filme mais falado do ano (em 2008, o diretor realizou a mesma proeza com o épico "Batman, O Cavaleiro das Trevas").

O cinema nacional não ficou atrás e provou que também sabe fazer filme de verdade, não episódios de novela esticados para a tela grande, nem teses chatas sobre o sertão, o árido ou o mundo cão. Em ritmo de filme de ação, José Padilha não apenas quebrou todos os recordes de bilheteria no país, como fez um longa com ampla repercussão e cheio de braços. Tropa de Elite 2 discute cinema, política, sociedade, tudo com maestria, feito por quem sabe manipular imagens e sons como poucos.

Cinema também é emoção. E eu me abro sem medo a filmes que só querem emocionar, mesmo que não inovem ou tenham falhas. Mesmo não sendo perfeitos, Toy Story 3 (resenha aqui) e Direito de Amar (péssimo título para um filme exemplar) estão bem perto de serem. O primeiro é um animação madura e que não tem medo de ser nostálgica e melancólica em alto grau. Um roteiro primoroso nos leva a uma jornada que mostra que crescer é deixar coisas para trás, é desapegar, sofrer e seguir em frente. Um filme infantil que traz um olhar belo e adulto sobre como é preciso deixar o passado em seu lugar para se alcançar o futuro.

Direito de Amar também é sobre perda, sobre como somos afetados por pessoas e elas influenciam nossas escolhas, trajetória e vida. Esteticamente perfeito, o estreante Tom Ford mostra uma realidade impecável, cheia de ternos bem cortados e cabelos milimetricamente penteados, como contraponto a uma vida vazia de sentidos graças à perda de um grande amor, desses que são tipo avassaladores e não deixam pedra sobre peda. Colin Firth, Julianne Moore e a trilha excepcional de Abel Korzeniowski são a cereja do bolo.

Outros destaques:
A bela trilha sonora, cortesia do Daft Punk, e o visual neon de Tron, O Legado (resenha aqui); O olhar delicado de Spike Jonze sobre a imaginação infantil em Onde Vivem os Monstros; A poesia ganha tradução em imagens no belo Brilho de uma Paixão; Michelle Pfeiffer encara a idade sem medo no drama de época Chéri; Martin Scorsese e Roman Polanski demonstram que sabem abraçar as regras de um gênero como poucos em Ilha do Medo e O Escritor Fantasma; Ryan Reynolds prova que é mais do que um rostinho bonito no ótimo e tenso Enterrado Vivo.