domingo, 25 de dezembro de 2011

2011: Um ano que já vai tarde?

Seguindo a lógica das listas pop, no qual escolhemos os melhores filmes, músicas, videoclipes e tudo o mais que merece ser “rankiado”, 2011 não entraria na minha lista de melhores anos. Foi estranho e não vai deixar saudade. Tempos de desemprego não ajudam quando eu me lembro desses 12 meses que passaram voando e não deixaram muitas marcas. Aliás, até deixaram, mas marcas não muito boas. Em algum momento, o emprego chegou, mas muita coisa ainda não...

Então quando olho para trás, vejo um 2011 de muito sexo causal e quase nenhum envolvimento, algo que adio, sem muita esperança, é verdade, para 2012. Foi um  ano de perder tempo com gente que, definitivamente, não merece meu tempo. Foi um ano de quebrar a cara nas poucas vezes que me senti empolgado por algo ou alguém. “É a vida”, dirão alguns. “Que bosta então”, digo eu!

Se a vida real não foi lá essas coisas, o mundo pop também deixou a desejar. 2011 foi um ano de muitas séries, mas pouquíssimos filmes. Nunca deixei tanto de ver filmes, trocando os mesmos por seriados, músicas, sono ou sexo fácil. Agora, em pleno dezembro, poucos parecem ter ficado na minha memória. Kirsten Dunst deprimida e o mundo se acabando em Melancolia é o filme que, talvez, mais tenha chamado minha atenção. Um Woody Allen ali, um Pedro Almodóvar acolá, um Terrence Malick sonolento aqui e o ano cinematográfico chega ao fim com um saldo bem negativo.

Pensando ao meu favor, devo dizer que, por mais que eu ame cinema, não tenho mais idade, vontade, nem paciência para perder tempo saindo de casa para assistir a “Transformers 3”, “Velozes e Furiosos 5”, “LanternaVerde” ou mais uma penca de blockbusters barulhentos e sem graça. Simplesmente não mereço isso e tenho mais o que fazer da minha vida. Então fiquei cinematograficamente seletivo e só vejo filme ruim no cinema se ele tiver algum atrativo (tipo a presença da Michelle Pfeiffer, como na hecatombe fílmica “Noite de Ano Novo”).

Se poucos filmes eu vi, muitas séries eu vivi. Nunca fui de acompanhar regularmente seriados. Quando os vi, assistia esporadicamente na televisão ou em forma de maratona em DVD, depois que o seriado já tinha acabado. Mas em 2011, surtei e abracei as narrativas seriadas enlatadas e norte-americanas sem medo de ser feliz. Dexter, True Blood, The Walking Dead, Hung e Glee são remanescentes de anos anteriores.

O resto foi novidade. Conheci e, logo em seguida, me despedi de Tara, a melhor mãe de família com múltipla personalidade da televisão (United States of Tara). No lugar de Tara, entrou Amy, a louca, chata, ridícula e perdida da ótima Enlightened. Comecei a ver Game of Thrones sem muita empolgação e sem entender muito o que se passava na minha frente. Cabeças de cavalo cortadas e tramas palacianas de lado, só me deixei levar pelo seriado quando dragões apareceram no episódio final, me deixando com certa vontade de acompanhar a segunda temporada que estreia em 2012. Já a histeria de American Horror Story me conquistou logo de cara (o corpo em cima e sempre à mostra de Dylan McDermott ajudou, devo admitir!).

Entre os poucos filmes e as muitas séries, ouvi muita música e fui a alguns shows. De novidades musicais na minha vida, destacaria o The XX, The National, Cut Copy, Future Islands e acho que só. Preguiça cada vez maior de me dedicar a coisas novas. Deve ser coisa da idade.

De shows, não fui a muitos, mas me comovi vendo a beleza do The National ao vivo e me decepcionei com a frieza do Ladytron. O show do U2 foi grandiosidade e tecnologia pura, de cair o queixo, mas sou mais intimista, então fiquei mais impressionado com a delicadeza do The Kings of Convenience ao vivo. A apresentação do Primal Scream foi histórica, é verdade, mas ver dois shows do Interpol no mesmo final de semana não tem preço (até tem, bem caro, diga-se de passagem!) e ninguém supera. Nesse meio tempo, ainda teve Strokes, Goldfrapp e Guillemots.

2011 entra para minha história como um ano bem pouco memorável (ou não, talvez eu esteja exagerando e o distanciamento me faça perceber que ele foi um ano ok). Dizer que foram poucas emoções seria minimizar bons momentos de amigos que vieram de longe, por exemplo, de alguns filmes que me fizeram rir ou chorar, de músicas que me fizeram acreditar ou simplesmente dançar. Mas o ano termina com aquela sensação de que muita coisa não aconteceu e vai ficar para depois. Mas acho que isso deve ser normal. Ou não?

Então que venha 2012, com mais séries e filmes, mais músicas e shows, menos sexo casual e mais envolvimento. Menos nostalgia e melancolia e mais vontade. Mais diversão e menos tempo ocioso. Um trabalho mais promissor e horas de sono mais bem dormidas. Mais vivência e menos ilusões. Que esse 2012 chegue logo, com expectativas na medida certa! Se não acontecer, tudo bem. Sempre podemos esperar 2013, 2014...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cinema: Noite de Ano Novo

O novo filme de Garry Marshall ("Noite de Ano Novo") está para o cinema assim como a bomba atômica está para Hiroshima e Nagasaki. Seguindo a mesma lógica fajuta de Idas e Vindas do Amor, no qual um grupo enorme de astros e estrelas se reúne em volta de uma série de histórias sem graça sobre um feriado específico, no primeiro caso o Dia dos Namorados, aqui, o Réveillon, o filme do diretor de “Uma Linda Mulher” é um desperdício de celulóide do começo ao fim.

É incrível como tantos atores e atrizes conhecidos (alguns até realmente bons) tenham embarcado em um longa tão genérico e sem graça. As mil e uma trama são o mais puro clichê e nenhuma, nenhumazinha mesmo, desperta o menor interesse do público. Seja pela falta de tempo para desenvolver os plots ou mesmo a total falta de carisma dos personagens, Noite de Ano Novo é uma colcha de retalho de clichês que mais parece um episódio longo e mal feito de um seriado ruim.
Todas as histórias, claro, giram em torno de arrependimentos, conciliações ou expectativas futuras.Tudo seguindo a cartilha careta e piegas que rege a lógica da virada do ano, quando todo mundo fica mais sensível e finge reavaliar a vida para, no dia seguinte, esquecer tudo e voltar à rotina besta de sempre. Chega a ser um acinte à inteligência ver tantos clichês reunidos sem o menor critério.

Se os personagens e o desenrolar das tramas não funcionam, não resta muito que dizer da direção patética de Marshall ou da edição que não sabe amarrar as tramas ou mesmo dar um respiro entre um acontecimento e outro.  É tudo jogado sem critério e dá pena ver Michelle Pfeiffer, Hilary Swank, Halle Berry, Robert De Niro, Sarah Jessica Parker e outros tantos desperdiçando tempo e talento com uma bobagem desse quilate.

Há tempos que queria ver um filme ruim no cinema. Deixei passar vários por pura preguiça, mas saciei minha vontade com “Noite de Ano Novo”. Só não recomendo. O filme é realmente ruim e nada se salva.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Série: American Horror Story

O horror, o horror! Enquanto o cinema de terror se perde com filmes cada vez mais genéricos (“Não tenha medo do escuro”) ou franquias que são a mais pura derrota (alguém ainda se importa com “Jogos Mortais”, “Premonição” ou “Atividade Paranormal”?), a televisão tem investido cada vez mais no gênero. Os vampiros, lobisomens, fadas e outras tantas criaturas de “True Blood” podem não necessariamente assustar, mas os zumbis de “The Walking Dead” deram um sopro de sobrevida a um gênero meio esquecido na telinha. Agora eles (os zumbis mais pop dos últimos tempos) ganham companhia com American Horror Story - ainda temos uma tal de “Grimm”, que nunca vi, mas verei um dia -, uma das melhores novas séries da temporada.

A trama não poderia ser mais óbvia: família acha que vai resolver todos os seus problemas ao se mudar para uma nova casa, uma mansão que, claro, é mal assombrada. Se a criatividade passa longe da premissa da série, a realização deixa de lado toda a obviedade do plot e aposta em histeria, personagens excêntricos, enquadramentos de câmera inusitados, edição de primeira e trilha sonora inspirada (das músicas pop ao reaproveitamento da trilha musical de “Drácula de Bram Stoker”). É um exemplo do que a televisão norte-americana consegue fazer atualmente, misturando sustos, temas polêmicos, sexo, mortes e muito sangue sem o menor pudor.
Criada por Ryan Murphy e Brad Falchuk (“Glee” e “Nip/Tuck”), a série tem dividido opiniões. Alguns acham tudo um absurdo sem sentido e que apela para o mau gosto. Outros embarcam sem medo na trama que vai e volta no tempo para mostrar a história de assassinatos que marca o passado da mansão e, agora, assombra a família Harmon (o pai Dylan McDermott, a mãe Connie Britton e a filha adolescente Taissa Farmiga).

Homens com roupas de borracha, enfermeiras assassinadas, abortos, um cosplay de Duas Caras, uma vizinha louca (Jessica Lange no auge da caricatura), um adolescente responsável por um massacre em massa no colégio, uma governanta um tanto estranha e muitas e muitas aberrações se misturam e deixam o espectador confuso sobre quem está vivo ou morto, o que é real ou pura alucinação.
A cada novo episódio, os mistérios vão sendo resolvidos e a série ganha um tom mais histérico e que deixa tudo ainda mais divertido e envolvente. Com a primeira temporada de 12 episódios chegando ao fim e recheada de gente boa no elenco (Frances Conroy, Denis O´Hare, Kate Mara, Zachary Quinto e outros tantos), American Horror Story não tem a mesma seriedade de “The Walking Dead” ou o mesmo deboche de “True Blood”, mas caminha muito bem pela trilha do meio termo. Eu virei fã.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cinema: Um romance bom, um romance ruim


Romances são uma constante na tela grande. Às vezes eles vêm embalados como comédias, outras como dramas, muitas vezes são diluídos em filmes de gênero como coadjuvantes de tramas de ação, espionagem ou terror. Vez ou outra os romances comovem. Muitas vezes não dizem nada e passam batido. Mas não dá para negar que romances, com finais felizes ou trágicos, são essenciais ao mundo do cinema, sejam os que arrebatam, sejam aqueles inexplicáveis. Vi recentemente dois exemplares desse “macro gênero” presente no cinema, literatura, música pop, televisão etc.  Dois filmes que não poderiam ser mais diferentes entre si, mesmo partindo do mesmo princípio: duas pessoas que se encontram, apaixonam-se e têm as vidas transformadas.

Inquietos adota um tom pastel, seja na fotografia, seja na encenação. É um romance que foge da dramaticidade exacerbada. No filme de Gus Van Sant, garoto com problemas encontra garota com câncer. A identificação entre ambos é imediata, mas o relacionamento tem prazo de validade. Nas mãos de outro diretor, o filme poderia ser um melodrama lacrimoso, cheio de momentos dramáticos e atuações em tom maior. Mas Van Sant prefere adotar outro registro. O filme é pausado e a impressão que fica é que a câmera lenta prevalece. Nada parece realmente acontecer, ainda que aconteça.
Para aqueles que desconhecem a obra do diretor, esse modo de filmar um tanto frio e impessoal pode parecer estranho e causar certo incômodo, principalmente graças à temática que pede drama, gritos e lágrimas. Mas quem já viu filmes como “Elefante” e “Os Últimos Dias” consegue ver certa beleza nas imagens-clichê que desfilam pela tela.

Ajuda o fato da química entre o belo Henry Fonda e a feia Mia Wasikowska funcionar e casar com a proposta da produção. O tédio e os gestos blasés dos dois combinam com a aura estabelecida por Van Sant, que lança um olhar delicado sob o encontro entre dois jovens que não têm muito futuro pela frente. Existe poesia na tristeza, e Van Sant sabe retratar isso como poucos.
Um dia segue caminho totalmente oposto. Adaptado do livro homônimo de David Nicholls, um descompromissado exemplar de literatura pop com uma premissa interessante e narrativa envolvente, o filme de Lone Scherfig pega tudo que funciona no papel e desperdiça na tela grande (o mais surpreendente é que a adaptação do roteiro para o cinema foi feita pelo próprio autor do livro).

Anne Hathaway e Jim Sturgess formam o casal sem sal desse típico exemplo de como o cinema pode destruir uma ideia interessante (sim, eu sei que literatura é literatura e cinema é cinema, mas a merda aqui é grande!). A proposta é apresentar o relacionamento entre dois amigos ao longo de 20 anos, sempre no mesmo dia: 15 de julho. O resultado é química zero entre Hathaway (péssima) e Sturgess (esforçado); um roteiro cheio de clichês e frases de efeito que não funcionam; e uma narrativa emperrada e que transforma a premissa do livro em uma aberração audiovisual.
Responsabilizar somente Hathaway e Sturgess pelo equívoco do longa seria fácil. Nicholls tem parte da culpa por não saber dar vida no cinema ao que ele mesmo escreveu. A estrutura do filme é esquemática (a do livro também é, mas a mídia é outra), e todos os diálogos, ironia e referências pop do livro são assassinados graças a uma montagem primária e infeliz que transforma as cenas em meros esquetes sem ligação.

A direção qualquer coisa de Lone Scherfig é outro pecado capital do filme. Responsável pelo genérico “Educação” (filme elogiadíssimo e que chegou a ser indicado ao Oscar, mas que só será lembrado no futuro graças à atuação de Carey Mulligan), a diretora não sabe o que fazer com o material que tem em mãos e escolhe o caminho mais fácil: o do melodrama barato e machista (é a mulher que sofre, é a mulher que abre mão, é a mulher que é punida).
Comparar “Inquietos” com “Um Dia” chega a ser injusto. Enquanto o primeiro toca, mesmo adotando um registro monocromático abaixo do tom, o segundo apela para todas as artimanhas melodramáticas e não consegue causar nenhuma empatia. O primeiro usa os figurinos e a fotografia para emoldurar um romance quase glacial entre dois jovens que vivem em realidades paralelas. O segundo usa a premissa do “o mesmo dia ao longo de 20 anos” como mera desculpa para colocar os atores em trajes e penteados constrangedores que não acrescentam em nada à narrativa.

Em comum, os dois filmes terminam tragicamente, ainda que representem a tristeza de formas diferentes. O primeiro é um registro lírico de como um simples encontro pode nos afetar. O outro mostra a mesma coisa apelando para o piegas.  O talento presente no primeiro é o talento desperdiçado no segundo.