sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

2 vezes Spielberg


Um dos diretores mais conhecidos, amados e odiados do planeta, Steven Spielberg sempre se dividiu muito bem entre um cinema de caráter mais de entretenimento e outro com uma carapuça mais séria, mesmo que todos os seus filmes sempre tenham um apelo comercial. Com estreia quase simultânea, seus últimos trabalhos pareciam ter propostas diferentes e seguir a linha diversão x seriedade, mas tanto o épico Cavalo de Guerra quanto à animação As Aventuras de Tintim são produções mais preocupadas em entreter do que propriamente apontar para um caminho mais “sério”.

O primeiro apresenta uma narrativa clássica das mais convencionais, com trilha musical onipresente, fotografia genérica e apelo emocional em doses cavalares (perdão pelo trocadilho) para fazer o público comprar a história da amizade entre um rapaz bom e um cavalo arredio em meio à guerra. Emociona, mas não convence (no gênero cinematográfico eqüino, Corcel Negro ganha!). A história é contada de modo esquemático e mais parece uma sucessão de esquetes com o tal cavalo. Os humanos não despertam a menor simpatia, mas Spielberg sabe o que faz quando constrói as cenas de batalha.

Já a animação feita à base do método motion capture (que nunca me cativou) e baseada nos personagens do cartunista belga Hergé, "As Aventuras de Tintim" não esconde sua natureza aventuresca e é pura diversão, mas não vai além disso. O visual é belíssimo, não há como negar, e a trama começa sem muito rodeios, mas a frieza da técnica de captura de movimentos acaba criando um distanciamento entre público e narrativa que depõe contra a animação. Como não sou um iniciado no universo de Hergé, não posso dizer se Spielberg foi fiel ou não à essência dos quadrinhos do belga. Ainda que seja perceptível o empenho dos atores (Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig), o filme traz técnica demais e alma de menos.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Cinema: Imortais X Missão Impossível



Numa escala de respeitabilidade bem preconceituosa, filmes de ação só ganham das produções do gênero de terror. No senso comum, são filmes feitos como entretenimento ligeiro, vazio, de consumo descartável. Raramente são levados a sério. A culpa é do próprio cinema - ou da indústria do cinema, para ser mais justo. 

Correrias em demasia, cenas e perseguições mirabolantes, explosões e mais explosões, que ecoam sem a menor pena do ouvido dos espectadores no Double Sound System das salas de cinema, e personagens rasos como pires também não ajudam. Tudo embalado por uma edição picotada e frenética que não dá trégua. Os heróis invencíveis que levam murros, tiros, pontapés e sobrevivem a quedas e explosões (no primeiro murro, eu já pedia penico!) tornam tudo mais inverossímil e, porque não, chato.

Mas com fé sempre dá para pinçar alguma coisa bacana e com substância desse gênero quase tão amplo quanto a vida (basta ter uma explosão aqui ou um tiro ali e, voilá, o filme já é categorizado como de ação). Alguns diretores, como James Cameron ou Christopher Nolar, por exemplo, se saem muito bem no gênero e conseguem, vez ou outra, deixar o rótulo com uma cara menos estereotipada. Recentemente, vi dois exemplares de filmes de ação bem distintos entre si e com resultados diversos também.

A série Missão Impossível já teve diretores como Brian DePalmaJohn Woo, JJ Abrams e chega ao quarto episódio marcando a estreia de Brad Bird no cinema live action (antes, o rapaz só havia dirigido animações, sendo “Os Incríveis” a mais bem-sucedida). A estreia do moço é promissora, mas não traz nada de novo à série. 

Tom Cruise continua carismático como sempre, mesmo sendo mais odiado do que amado nos dias de hoje. A ação é ininterrupta; a edição, acelerada; a história, estapafúrdia. E por aí vai. Depõe contra o longa a total falta de empatia do vilão (vivido sem o menor entusiasmo por Michael Nyqvist, da trilogia sueca Millenium). Tirando um tom mais cômico ali ou acolá, a produção não difere muito das demais no quesito “me diverti, mas já esqueci”. Passatempo rápido e indolor. Mas ninguém precisa de um quinto episódio, vamos ser honestos!

Bem mais memorável, ainda que no pior sentido, é Imortais, produção do subgênero ação nos tempos da mitologia. Esse exemplar se localiza em algum lugar entre um “Gladiador” e um “300” da vida, em uma versão bastante piorada. Sem o talento narrativo de um Ridley Scott, Tarsem (um dos piores diretores da atualidade, responsável pelos belos e vazios A CelaThe Fall e pela bomba anunciada Espelho, Espelho Meu), se espelha mais na pretensão visual de Zack Snyder. O cara, advindo do universo dos videoclipes (Losing My Religion é dirigido por ele), confunde cinema com direção de arte e figurinos exagerados e, claro, piora a cada novo longa. 

O resultado é uma produção que troca a narrativa por plumas, paetês, figurinos risíveis e uma câmera lenta que tenta dar estofo a imagens totalmente vagabundas e genéricas. Há quem goste, claro! Não eu! A mistura de deuses gregos sarados, mortais também sarados, efeitos especiais, Henry Cavill e mais uma legião de atores descamisados não cola.

Para quem, como eu (vamos admitir!), foi ver o filme só por causa dos corpos dos atores (lindos, é verdade!) em 3D, a dica é ir logo direto ao ponto e ver algum “filme educativo” da UK Naked Men, por exemplo. Os atores são mais bonitos, vão direto ao ponto e os gemidos que eles dão são bem mais honestos do que os diálogos que você vai ver aqui. A mais pura verdade.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Cinema: Triângulo Amoroso

A trama de Triângulo Amoroso é um tanto banal. Casal passa, sem nenhum dos dois assumir, por crise e acaba, sem saber, se envolvendo com o mesmo homem. A história e seu desenrolar não apresentam nenhuma surpresa, mas a realização de Tom Tykwer ("Corra Lola, Corra", "Perfume") é o grande diferencial do filme. Se histórias sobre enlaces amorosos entre três pessoas não são novidades no cinema (tivemos, inclusive, um recente exemplo nacional), a direção de Tykwer traz uma embalagem nova ao tema, mesmo não necessariamente apostando em um ponto de vista diferente.

Hanna e Simon estão naquela fase de conforto da vida em que mudanças não são muito bem-vindas. Ambos então optam por fingir para si e o companheiro que está tudo bem, a ponto dos dois simularem o gozo no sexo, por exemplo (Simon cuspindo na camisinha usada é o emblema atual da relação). A situação começa a mudar para os dois quando Adam aparece, em momentos diferentes, em suas vidas. É a partir desse encontro inesperado que o casal, separadamente, reencontra a felicidade e o desejo.
Tykwer sabe filmar com precisão e delicadeza cenas isoladas de “Triângulo Amoroso”, se reafirmando enquanto um cineasta com um bom olhar estético. O alemão também acerta ao escolher uma edição que se divide em telas ao mesmo tempo em que abre espaço para os três protagonistas. A escolha de mudar o foco da narrativa ao colocar cada ponta do triângulo como protagonista é acertada e ajuda a criar empatia pelos três personagens. A preocupação estética (belas imagens e música no lugar certo) reforçam a simpatia do longa.

Mas “Triângulo Amoroso” está longe de ser perfeito e algumas coisas incomodam. Primeiro, o filme demora a engrenar e começa apresentando uma série de subtramas que não acrescentam muito e servem apenas para dar estofo aos personagens. Nenhum problema se tal fato não deixasse a produção com cara de mais longa do que é, passando a impressão de que o filme fica dando voltas até achar seu rumo.
Outro porém é uma certa indecisão entre um tom mais dramático e outro mais cômico, principalmente em relação aos momentos referentes ao acaso da história. Também não há nenhum problema em se misturar drama e comédia, mas Tykwer não parece muito confortável com essa opção. A encenação cômica de momentos-chave da narrativa acaba enfraquecendo o conjunto e destoa de uma abordagem mais triste e melancólica dada a algumas cenas, até mesmo à própria natureza dos personagens.

A sorte é que Tykwer é um bom diretor e tem um elenco talentoso defendendo o filme. O trio de atores sabe o que faz e contorna os clichês e o desfecho um tanto óbvio com dignidade. O resultado é um filme que compensa pelas partes, ainda que seja enfraquecido pelo todo.