segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cinema: À Toda Prova

Steven Soderbergh chuta o pau da barraca nesse À Toda Prova, longa de ação descerebrado que tem como mérito maior ser protagonizado por uma lutadora de MMA (não me perguntem o que é isso, porque eu não sei!), Gina Carano, e trazer um bando de atores fazendo pontas, ou sendo espancados, melhor dizendo. A história, um tanto confusa, gira em torno da boa e velha traição, com direito à espionagem, mortes e viagens pelo mundo afora.

É um filme de ação com toques de produção de espionagem envernizado com a grife Soderbergh de ser. Ou seja, fotografia em tons amarelados (desde “Traffic” que o moço insiste na mesma paleta de cores), rostos conhecidos e uma edição engraçadinha cheia de firulas. Em resumo: muito estofo para pouca coisa.
A trama gira em torno de Mallory Kane (Carano), espiã que é traída pelos chefes em meio a uma missão e tem que provar sua inocência. Nada mais do que óbvio. Para disfarçar a obviedade, Soderbergh estraga tudo e vai contando a história de forma não linear, o que só atrapalha mais ainda a brincadeira. Ok, talvez, as duas cervejas que tomei antes da sessão não tenham ajudado, mas saí com a impressão de que o longa seria bem melhor se fosse contado de forma convencional, sem porra de flashbacks e vai e voltas no tempo.
Entre sopapos, pontapés, alguns tiros e explosões, Carano se saiu muito bem na parte física da coisa toda, mas não convence como atriz, sempre com uma cara emburrada nada carismática. O elenco masculino é interessante, mas só serve de escada à “atriz” e vai morrendo ou sendo descartado no decorrer da produção (Michael Douglas, Ewan McGregor, Antonio Banderas e os garotos da vez Michael Fassbender e Channing Tatum dão o ar ou os bíceps de sua graça).
O resultado é um filme frouxo que só se sustenta pela curiosidade de ver Soderbergh desbravando mais um gênero (o rapaz já fez de tudo: drama, filme polêmico sobre sexo, longa de doença catástrofe,produção kafkaniana, filme de assalto, veículo para Julia Roberts ganhar Oscar,produção experimental, ficção científica, cinebiografia de líder político, fracasso dirigido em preto e branco e mais uma porrada de fime - gente, como esse homem trabalha!). No caso de “À Toda Prova”, menos seria mais, e Soderbergh é o principal defeito do longa.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Há dois anos...

... eu desembarcava em São Paulo com algumas malas e sonhos. Mais do que sonhos, na verdade, eu buscava voltar a sentir sensações que tinha sentido antes ao visitar a cidade e que não mais sentia na minha cidade de origem, Fortaleza (que nem minha cidade de origem é, mas foi onde passei a maior parte da minha vida!). A sensação de vivenciar uma vida mais cultural que sempre tanto me agradou. A sensação de pertencimento ao andar esbarrando em um monte de gente pelas ruas cheias de uma das maiores metrópoles do mundo. A sensação de crença de estar mais próximo de pessoas que levam um estilo de vida mais parecido com o meu. No meio do recheio de todas essas vontades clichês, a maior de todas: fugir de mim mesmo ao achar que, mudando de cidade, mudaria por tabela meu modo meio torto de ver o mundo e encarar as coisas.
  
Dois anos depois, já voltei a viver inúmeras vezes a sensação que senti no belo show do Radiohead, na Chácara do Jockey, lá em 2009, quando me dei conta que, realmente, talvez eu fosse mais feliz em São Paulo do que em qualquer outro lugar (e foi voltando no avião, ao som de “Reckoner” e “Weird Fishes/Arpeggi”, que caiu a ficha de que era hora de realmente vir para Sampa; cerca de um ano depois, cá estava eu). Dois anos depois ainda me assusto ao fazer uma baldeação na Sé ou nas estações Consolação e Paulista e me deparar com um mar de gente que parece não ter fim. Dois anos depois, efetivamente, conheci algumas pessoas bacanas e que levam, sim, um estilo de vida mais próximo do meu. Infelizmente, depois de dois anos, ainda não consegui fugir de mim mesmo e continuo pensando meio torto e encarando as coisas da forma mais complicada possível. Culpa minha, não de São Paulo!
Hoje, exatamente hoje, estou na dúvida se dois anos é pouco tempo, ou se muito tempo já passou. Nesse pouco ou muito tempo, descobri, claro, que a São Paulo das visitas é bem diferente da São Paulo do dia a dia. Hoje, a cidade, antes confusa e que me deixava com receio, já tem uma lógica geográfica na minha cabeça, e isso me deixa extramete feliz, ainda que eu circule bem pouco por várias regiões dela. Hoje, a Metrópole, antes contemporânea e moderna, ganhou ares de cidade conservadora e reacionária que, às vezes, assusta.
Mas a questão é que, com pouco ou muito tempo, a impressão é que já fiz e vivi um monte de coisas por aqui. E o melhor, ainda tenho a impressão/esperança que tem muita, muita coisa a ser feita e vivida. Acho que é isso que mais me agrada atualmente em São Paulo. O emprego bacana não veio e, hoje, trabalho porque tenho que trabalhar e pagar contas. Aquela pessoa legal também não deu as caras, mas o sexo fácil em São Paulo serve como tapa buraco para os vários vazios existenciais. O dinheiro também não veio. Pelo contrário, ele foi embora, porque São Paulo é muito, muito cara. Mas tudo bem, porque, para o bem ou para o mal, São Paulo sempre deixa as portas abertas para possibilidades.
E, talvez, essa tenha sido a grande razão deu ter deixado tudo para trás (família, amigos, empregos, conforto) em Fortaleza e vindo para cá. Fortaleza já deu o que tinha que dar (boas coisas, é verdade), mas fechou às portas para as possibilidades que eu estava/estou/estarei almejando sempre.
Entre shows internacionais, festivais de música, mostras de cinema, exposições bacanas, conversas banais em bares da vida, noites dançantes na pista do Netão, sexos casuais, freelas e empregos, o que mais me orgulha é saber que fiz tudo isso enquanto “cidadão paulistano”, morando e vivendo nessa cidade que pode ser muito, muito cão (Qualquer um pode fazer isso em um final de semana em São Paulo, na verdade. Vários amigos de Fortaleza, vira e mexe, fazem. Mas, desculpem-me, morando aqui, com CEP fixo, o gostinho é diferente).
Para quem com mais de 30 anos, já deixando a juventude para trás e sem muito ânimo para riscos, chegou aqui sem eira nem beira, sem lenço e sem documento, sem nada realmente concreto em mãos, a não ser sonhos e possibilidades, morrendo de medo de fracassar, ficar sem grana e ter que voltar com o rabinho entre as pernas, é muita coisa.  
Em pleno inferno astral e ouvindo Sigur Rós (lindo como sempre) como trilha, não sei se São Paulo será meu destino final, mas é hora de assumir que minha decisão de vir para cá não foi um erro e deixar de pensar nas coisas que ficaram para trás. É hora de, finalmente, realizar que aqui é onde eu moro, aqui é onde eu trabalho e aqui é, exatamente, onde eu quero que outras coisas boas aconteçam.
PS: Mil perdões pelo texto piegas e confuso, cheio de “muitos” e palavras repetidas. Em breve, voltaremos a programação normal de textos sobre coisas interessantes: cinema, música, seriados etc. Enquanto não escrevo nada novo aqui, comecei a colaborar com o portal Umbigo das Coisas e já tem dois textos meus lá: Jovens AdultosBeleza Adormecida.
PS1: O Pensamentos FabioFreireanos, alcunha dada por uma amiga, nasceu logo quando vim para São Paulo. Ele nunca foi, nem nunca será, uma obrigação ou algo que eu realmente leve a sério. Mas, enfim, ele é um bom fruto da minha vida em Sampa.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cinema: Um método perigoso

David Cronenberg já tinha assumido uma postura mais “acadêmica” em seus últimos trabalhos, “Marcas da Violência” e “Senhores do Crime”, para ser mais preciso. Deixando de lado uma narrativa mais intrincada e um apuro estético para o grotesco, o diretor, conhecido por seus filmes esquisitos nos quais pessoas explodem cabeças de outras com o poder da mente ou cientistas se transformam em moscas gigantes, nos últimos filmes, o cineasta apontava para um novo caminho de formalismo mais didático. Os personagens envoltos em violência - física, moral, ética ou psicológica - continuavam fazendo parte do universo de Cronenberg, mas em uma chave mais universal e limpinha que vinha ampliando seu público.

Um Método Perigoso é o ápice desse cinema quadrado adotado pelo cineasta canadense. Fantasiado de filme de época, o longa deixa o espectador vislumbrar uma série de possíveis características do cinema "cronenberguiano" (a violência psicológica, o sexo, os temas tabus), mas a embalagem genérica da produção resulta em uma experiência qualquer nota. Nada no filme realça a trama que envolve Freud, Jung, sexo, uma paciente obcecada por humilhações e o despertar de um novo modo de pensar na psicologia moderna.
Tudo em “Um Método Perigoso” é apático. A produção do filme nunca chama a atenção. E o que poderia ser uma qualidade, a partir do momento em que longas de época costumam apelar ao visual para esconder falhas, acaba sendo um defeito, já que temos a impressão que nada nunca acontece. O roteiro irregular e a direção em terceira pessoa de Cronenberg potencializam mais ainda a fraqueza do trabalho. “Um Método Perigoso” é um desses filmes qualquer coisa. É um Cronenberg para coxinha ver.
Nem o “elenco de sonhos” salva. Se o ator da vez, Michael Fassbender, faz o que pode no papel de um Jung perdido em questões éticas, Viggo Mortensen até empresta certa dignidade a um Freud visivelmente frustrado, mas não vai muito além disso. A única coisa digna de nota no filme é a interpretação exageradíssima de Keira Knightley, que erra feio ao tentar emular o espírito da obra de Cronenberg, entregando uma atuação acima do tom que destoa do resto do longa. Quando o filme chega ao fim, o que fica na nossa lembrança são as mandíbulas da atriz. Muito pouco para um cineasta outrora tão ousado quanto Cronenberg.