terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cinema: mais pílulas


 Magic Mike: Steven Soderbergh pode ter anunciado a aposentadoria, mas o rapaz tem produzido em escala quase industrial desde então. Em menos de dois anos, foram três filmes lançados (Contágio, À Toda Prova e "Magic Mike") e mais um a caminho (Side Effects). MagicMike é o melhor dessa nova leva de longas, mesmo sendo bem tolo em seu conceito. O filme usa o tal Clube das Mulheres para discutir um pouco economia e moralismo. A favor do filme, temos atores carismáticos, um bom ritmo e muito peitorais bem definidos e bundas torneadas de um elenco masculino de primeira. Pesa contra o longa o fato dele não apresentar nada que, por exemplo, já não tenhamos visto em uma novela das oito e por não trazer nenhum grande conflito. O filme começa e só temos um plot mais definido lá pelo final, mas tudo rapidamente se resolve. Pelo menos é um filme simpático e menos pretensioso do que o que o diretor andava fazendo, mesmo sendo apenas uma comédia romântica no final das contas.

Frankenweenie: Há tempos que não vemos um filme realmente bom de Tim Burton, que passou a escolher e dirigir seus projetos no piloto automático. Para voltar à boa forma, o diretor resolveu olhar para seu próprio passado e transformar um de seus primeiros trabalhos, o curta Frankenweenie, em um longa de animação. O resultado é o melhor trabalho do diretor em tempos. A direção de arte é um primor e a concepção dos personagens é de impressionar, prestando uma homenagem a grandes personagens da história do cinema de terror. O próprio filme bebe com vontade na fonte do cinema de horror tipo B. Em linhas gerais, "Frankenweenie" deve não apenas a esse cinema que fez a cabeça de Burton, mas ao próprio universo criado pelo cineasta. A maior prova é estrutura narrativa bem parecida com a de Edwards Mãos de Tesoura, um dos melhores trabalhos de Burton.

Um Alguém Apaixonado: Depois de conquistar uma nova leva de fãs, avessa ao cinema iraniano, com o mais universal Cópia Fiel, Abbas Kiarostami dá um passo atrás com esse "Um Alguém Apaixonado". Apesar de ser muito bem filmado, com longos planos-sequência e cenas com planos estáticos, tudo muito bem planejado, o filme carece de apego. Acompanhamos sem muito interesse a trajetória de uma prostituta indo ao encontro, sem muita vontade, de mais um cliente e o desencadear de algumas ações a partir daí. Kiarostami testa a paciência do público com um filme lento, arrastado e que não chega a lugar nenhum. Parece um trabalho inacabado feito às pressas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cinema: pílulas

 
 
007 – Operação Skyfall – Oscar de melhor macho alfa para Daniel Craig, por favor. Nunca fui muito fã de James Bond, mas o ator loiro, meio feio, mas encorpado e elegante me fez rever todos os conceitos sobre o agente secreto (o que diz muito sobre meus critérios de avaliação cinematográfica). Na terceira vez que Craig encarna Bond, o ator continua forte, viril, frio e sexy, ganhando o reforço de uma trama mais elaborada e emocional. A direção autoral de Sam Mendes também eleva a experiência e dá certa sofisticação à franquia. 007 – Operação Skyfall é um dos filmes visualmente mais interessantes do agente e é o mais próximo de “Arte” que o agente vai chegar um dia. E isso é um elogio. Javier Bardem, Judi Dench e Ralph Fiennes no elenco só melhoram tudo.
 
As Vantagens de Ser Invisível – Típico filme indie fofo sobre gente deslocada. Ou seja, não tem como não amar. A trama gira em torno de um adolescente meio problemático que não sabe muito bem qual seu lugar no mundo. Até que o rapaz se encontra um pouco ao conhecer dois outros adolescentes tão deslocados quanto ele. O elenco é uma graça (Logan Lerman, Emma Watson e Ezra Miller se saem muito bem em seus papéis), o roteiro é emocionante e a trilha sonora é uma coisa. A síntese do filme é a cena em que os três ouvem pela primeira vez “Heroes”, do David Bowie, em uma época em que saber de quem era uma música não era tão simples como usar um aplicativo.
Laurence Anyways – O cinema de Xavier Dolan, um jovem canadense metido a besta, sempre foi afetado e pretensioso. Mas “Eu matei minha mãe” e “Amores Imaginários” tinham algum frescor e ingenuidade que, de certa forma, minimizavam a direção “estou fazendo ARTE” que o rapaz costuma empregar aos filmes. Em Laurence Anyways, terceiro longa do moço, a coisa desanda de um jeito que meu deus. São três horas de masturbação intelectual para narrar a história de um rapaz que resolve virar moça, isso sem a melhor explicação. Sem um roteiro descente e com um ator principal (Melvil Poupaud) que não imprime o menor carisma ao papel, resta ao público aguentar a direção descolada de Dolan. "Laurence Anyways" vira então um filme todo trabalhado na trilha sonora cool e em cenas em câmera lenta que gritam arrogância e simbolismos clichês. Se durasse 1h30, até suportaríamos a pretensão do jovem autor. Mas três horas de cenas absurdinhas e vazias é demais. Haja paciência!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Cinema: E quando o amor pode ser uma bosta...

Recentemente, vi dois filmes que partem de uma premissa parecida: a de que o amor é uma merda e, eventualmente, ele acaba, seja pelo cotidiano cruel, seja pela distância sofrida. De acordo com Loucamente Apaixonados e Entre o Amor e a Paixão, o amor é mutável e acaba, minado pelos problemas, distância, dificuldades, diferenças, rotina e mais uma penca de coisas que o transformam, diminuem e mesmo o matam.
 
Segundo os dois filmes, que também se assemelham na pegada indie alternativa, o amor no cinema (e na vida real também, por que não?) vence cada vez menos todos os desafios. É cada vez mais comum o cinema deixar de lado o “amor romântico” que a todos salva e apostar em um amor mais real, falho e, consequentemente, passível de fim.

Em Loucamente Apaixonados, acompanhamos primeiro a paixão avassaladora entre dois jovens que acreditam ter toda uma vida juntos pela frente. Um descuido de um e, bingo, temos um problema que os afasta e arrasta a situação de uma pendência amorosa entre os dois por anos. O filme de Drake Doremus é lindo e cruel ao mesmo tempo. A entrega do elenco (Felicity Jones e Anton Yelchin) torna tudo ainda mais difícil para o espectador. Acompanhamos e vemos na tela o amor entre os dois seguir rumos diferentes e ser quase destruído em virtude de uma situação que foge ao controle dos dois. 
Michelle Williams e Seth Rogen já começam Entre o Amor e a Paixão casados e vivendo uma relação feliz. Mas ela sente falta de algo novo e refrescante. Esse frescor chega na pele do vizinho (Luke Kirby) que ela conhece por acaso. A química entre os dois é visível e imediata. Ela passa a se questionar, o vizinho entra no jogo dela, e o marido permanece alheio em sua inocência. O dilema dela é comum e corriqueiro: deixar um amor estável e agradável para se aventurar por algo atraente, mas incerto?

Cinematograficamente, o trabalho de Doremus é mais plástico, delicado e envolvente. A edição é picotada e cheia de saltos temporais, e a narrativa é muito feliz ao se dividir os dois atores, mesmo quando o romance entre os dois parece não mais resistir. O apuro não se sobressai em relação aos personagens e ao roteiro, muito bem delineado.
 
Sarah Polley, a diretora de “Entre o Amor e a Paixão”, adota uma abordagem mais cruel e, em certo sentido, parece estar julgando as escolhas de sua protagonista. O filme inicia mais duro, já que a relação entre o casal central já está estabelecida. Mas a diretora acerta ao lançar um olhar mais delicado à relação entre a personagem de Williams (demonstrando a cada novo filme que é uma das melhores atrizes da atualidade) e o vizinho. Algumas cenas são de uma beleza que impressionam (o quase videoclipe de “Video Killed The Radio Star” e a cena de reencontro entre ela e o vizinho são exemplos) e minimizam até as gorduras do roteiro (a irmã alcoólatra do personagem de Seth Rogen pouco acrescenta à trama).
Os dois filmes não apostam em finais felizes fáceis. Ambos terminam de forma melancólica e agridoce. Não determinam o fim do relacionamento, mas apresentam tanto a rotina quanto a distância como fatores decisivos para que os olhos brilhantes e os atos de amor e carinho do princípio sejam substituídos pelas dúvidas, incertezas, gestos frios e sem vida. Mesmo sendo filmes lindos, não é fácil, não!