quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Cinema: Amor

Eu tenho medo do Michael Haneke. Não vi todos os filmes dele, mas os que vi me deixaram uma impressão bem amarga (a saber, "Caché", "A Professora de Piano" e "Funny Games"). Funny Games – Violência Gratuita, por exemplo, nunca mais quero ver na vida, inclusive, ignorei o remake americano por motivos de não quero passar por tudo aquilo de novo.

Em Amor, as coisas não são muito diferentes. O tema pode ser novo e mais universal, mas o registro do cineasta continua seco, frio e sem concessões. Amor, na real, é quase um filme de terror. Estamos praticamente presos em um apartamento escuro e soturno em Paris, acompanhando a rotina massacrante e entediante de um casal de idosos perante uma doença.

Georges e Anne formam um casal de idosos que se divide entre o dia a dia e a paixão pela arte, até que ela, uma professora de piano aposentada, sofre um derrame. Passamos então a ver Anne, interpretada de forma bastante visceral e física por Emmanuelle Riva (indicada ao Oscar), definhar diante de nossos olhos, enquanto Georges (Jean-Louis Trintignant, quem realmente conduz o filme) cuida e sofre com o processo de decadência da esposa.

A julgar pela filmografia de Haneke, dizer que “Amor” não é um filme fácil não é nenhuma surpresa. Mas, mesmo já deixando claro de início como essa trajetória de dor termina, não deixa de ser chocante a forma como Haneke registra cada passo da experiência dessa morte em vida. Isso sem nenhum tipo de alívio. A música não existe e, para desespero do público, raramente a câmera se devia do que está acontecendo (o espectador só não assiste aos dois momentos de derrame, apenas presentes nos diálogos e na transformação de Riva).

Diante de todo o horror representado e do comportamento um tanto distante de Georges, só resta ao espectador se apoiar na personagem da filha do casal. Ela (Isabelle Huppert) é a única que parece demonstrar algum tipo de emoção, ainda que fuja da responsabilidade de ajudar os pais, quase um espelho do que sentimos, afinal nos comovemos, mas não queremos participar daquilo. Ainda que tenhamos consciência de que é a partir do incômodo que Haneke desenvolve seu cinema, realmente não é fácil chegar ao final do longa, e “Amor” entra na minha seleta lista de filmes que não quero nunca rever.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Cinema: Indicações Oscar 2013

Quem se importa com as indicações ao Oscar? Eu me importo, sempre me importei e, provavelmente, sempre me importarei. Achei as indicações bem estranhas. Como nem de longe vi a maioria dos filmes indicados (sou  cada vez menos cinéfilo, vejo cada vez menos filmes), fica difícil analisar se elas são justas ou não. Mas como todo mundo tem mania de opinar, também vou na leva.
 
Antes de qualquer coisa, acho a palavra “esnobar” um tanto forte e pejorativa demais. O fato de você não ter sido indicado, não necessariamente corresponde a uma esnobada. Em alguns casos, a “esnobada” parece evidente, mas em outros acho o uso da palavra desnecessário e pura “polêmica” boba. Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge me parece, sim, uma grande esnobada. Levou zero indicações quando poderia ter levado várias, pelo menos nas categorias técnicas (efeitos visuais, categorias de som, edição e fotografia). Já “Magic Mike”, “A Viagem” e “O Exótico Hotel Marigold” são ausências, mas não acho que sejam esnobadas.

Gostei de Helen Mirren e Marion Cotillard não terem sido indicadas à melhor atriz. Não vi nenhuma das atuações, mas os nomes das duas me parecem preguiçosos, sempre cogitados por qualquer papel que seja. A indicação de Jacki Weaver é uma surpresa e coloca O Lado Bom da Vida como um dos poucos filmes a receber indicação nas quatro categorias de atuação. Ainda na categoria atriz coadjuvante, Amy Adams recebe sua quarta, mesmo com toda aquela cara meio sem sal.
Ainda não vi “Django Livre”, mas confesso certa preguiça desse projeto de Tarantino, mesmo gostando do diretor. A indicação de ator coadjuvante a Christoph Waltz me parece preguiça nível mil, já que, a julgar pelo trailer, ele faz algo bem próximo ao que fez em “Bastardos Inglórios”. Mas posso estar errado, né?

Queria Rachel Weisz, mas não teve. Em compensação, teve a menina de nome impronunciável de “Indomável Sonhadora”. Não vi o filme, mas parece uma dessas indicações para um ator que está estreando e que depois não dá em (quase) nada: a gordinha de “Preciosa”, a latina de “Maria Cheia de Graça”, a menininha de “Encantadora de Baleias” e por aí vai.
Uma indicação só
Naomi Watts sofre, se corta e fica toda cagada em “O Impossível”, a única indicação a um filme que, talvez, merecesse mais. Helen Hunt ocupa a vaga de indicada por papel de prostituta da vez em “As Sessões” e também leva a única indicação da produção, enquanto o ator John Hawkes ficou de fora para dar lugar a Bradley Cooper e/ou Hugh Jackman (justo, bem mais bonitos!). “Moonrise Kingdom”, o filme mais preguiçoso e igual a tudo que ele já fez do Wes Anderson, foi lembrado pelo roteiro.

“Espelho, Espelho Meu”, com o pior e mais equivocado figurino do ano, levou indicação, acredito que graças à morte de Eiko Ishioka, em um dos seus piores trabalhos. “Prometheus” tinha potencial para levar indicações por fotografia, direção de arte, pelas categorias sonoras e ator coadjuvante (cadê Michael Fassbender?), mas só levou pelos efeitos especiais. “Hitchcock” levou indicação por maquiagem, e o maior sucesso financeiro do ano, “Os Vingadores”, só foi lembrado por seus efeitos especiais. “Ted” e “Chasing Ice” (que raios de filme é esse?!) levam indicações por suas canções.

- De acordo com as indicações, Anna Karenina é o filme mais bonito do ano, com indicações em figurino, direção de arte, fotografia e trilha sonora;
- Estranho Ben Affleck não ser indicado como diretor, já que o Oscar adora atores que se dão bem dirigindo. A ausência (esnobada?) de Kathryn Bigelow é ainda mais sentida, já que “A Hora mais Escura” foi bastante elogiado, e ela faria história ao ser a primeira mulher a ser indicado duas vezes para direção;

- Jura que indicaram “O Hobbit” para maquiagem e direção de arte? Mas não foi tudo reaproveitado de “O Senhor dos Anéis”?

- Dos males o menor: esse ano não temos nenhum “Um Sonho Possível” ou o horroroso “Tão Forte, Tão Perto” na categoria de melhor filme;
Quem eu quero que ganhe
Filme: Só vi dois até agora (Argo e As Aventuras de Pi). Queria que levasse “O Lado Bom da Vida”, só pra dar um tempo nos filmes sérios e por ser um dos mais curtos (Campanha por filmes com 1h45, no máximo). Não vi “Lincoln” ainda, mas a vitória dele é bem cara de escolha preguiçosa e óbvia. Posso estar errado;
 
Direção: Sem Affleck ou Bigelow, daria para o David O´Russell, só pelo fato de um dia o rapaz já ter sido “aquele diretor ousado que nunca vai ser lembrado pelo Oscar”;
Ator: Bradley Cooper, porque ele é lindo. E isso basta;
Atriz: Naomi Watts, porque é uma ótima atriz e já merecia ter levado antes;
Ator Coadjuvante: Robert De Niro, só para gente lembrar que ele já foi um bom ator, apesar de hoje só fazer merda. Mas legal mesmo seria se o Richard Parker (o tigre de “As Aventuras de Pi”, ele tá ótimo e super expressivo no longa) levasse;

Atriz Coadjuvante: Não quero que a Anne Hathaway leve, só porque sou do contra. Sally Field já tem dois, né, então acho que daria pra Amy Adams, só pra ela não desenvolver complexo de loser;
Roteiro Original: Cadê “Looper”? “A Hora mais Escura”, porque dizem que é um roteiro bem “jornalístico” e eu sou jornalista, então vamos apoiar a categoria;

Roteiro Adaptado: Cadê “As Vantagens de Ser Invisível”? “O Lado Bom da Vida”, chega de filme grandioso, né!;
Fotografia/Direção de Arte/Figurinos/Trilha Sonora: “Anna Karenina”, porque sou bicha e tô louco pra ver;

Edição: “Argo”, só pro filme não sair sem nada. Não queremos o Ben Affleck triste, né!;
Maquiagem: “Hitchcock”, só porque tem Toni Collette e Scarlett Johansson;

Música: Adele vai ganhar com uma música pésszzzzzzzzzzzzzzzzzzzz;
Edição e Mixagem de som: 007 – Skyfall, pelos gemidos e pela macheza do Daniel Craig;

Efeitos Visuais: “Prometheus”, porque o filme é uma decepção, mas os efeitos são ótimos. Ou “As Aventuras de Pi”, pelo Richard Parker;
Filme estrangeiro: “Amor”.

Animação: Fico feliz tanto se “Frankenweenie” ou “Detona Raplh” levar.  
Caguei para documentários e as categorias de curta.

PS1: Esse post só existe por estou procastinando na firma. Não contem para ninguém.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cinema: Detona Ralph


Nunca fui o garoto do videogame, e minhas lembranças de games se resumem ao Pac-Man (ou Come-Come, como conhecia na minha infância), Alex Kidd e Sonic. E olhe lá! Mas não poderia ter gostado mais de Detona Ralph, animação que faz pela Disney o mesmo que "Toy Story" fez pela Pixar.
Enquanto “Toy Story” lança um olhar sobre o universo dos brinquedos, “Detona Ralph” usa como cenário um fliperama e tem como personagens ícones dos games (ou quase isso). O resultado é um filme ágil, colorido, envolvente e cheio de referências. A estrutura segue bem a cartilha desenvolvida por Toy Story, mas isso não é um demérito, já que ambas as animações se saem muito bem ao usar a dicotomia futuro e passado e o novo e o velho para falar, essencialmente, sobre amizade.

Misturando drama, comédia e muita ação, “Detona Ralph” vai na linha das animações que divertem as crianças e, ao mesmo tempo, dão uma piscadela nostálgica para os adultos. Em um breve resumo, a trama do filme é sobre um vilão cansado de ser mau e solitário que resolve provar que pode ser diferente. Bonitinho, carismático e, de longe, o melhor filme sobre videogames já feito.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cinema: um tsunami e a Terra Média


O Impossível – O cinema catástrofe geralmente é oco e vazio, vide os filmes do Roland Emmerich, cheio de efeitos especiais para compensar o fiapo de trama e as interpretações rasas. Felizmente, “O Impossível”, filme do espanhol Juan Antoio Bayona (“O Orfanato”), foge dessa sina. Talvez por ser uma história real e que ainda reverbera pelo mundo, talvez pelo elenco competente que se entrega de corpo e alma aos papéis de pessoas que sobreviveram a uma tragédia que matou mais de 200 mil pessoas. A primeira parte do filme é de causar calafrios, e a direção de Bayona nos coloca dentro do tsunami. Vemos o desespero, sentimos os cortes e a dor fiísica dos personagens. A segunda metade é mais emocional e melodramática, mas nem por isso menos dolorida. O reencontro entre Tom Holland e os irmãos é, de longe, a cena mais forte da produção. 

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada – Os nerds e geeks de plantão que não me levem a mal, mas apesar de serem bons filmes, nunca paguei muito pau para a trilogia de O Senhor dos Anéis, daí uma preguiça tremenda de ver esse primeira capítulo de “O Hobbit”. Por incrível que pareça, até que me diverti. O filme é longo, em alguns momentos arrastado e claramente esticado sabe-se lá Deus porquê. Mas talvez a familiaridade com os personagens e a trama contem a favor. É bacana rever Ian McKellen, Cate Blanchett e Hugo Weaving revivendo papéis tão icônicos. Além da duração exagerada, pesam contra o longa um tom mais cômico e infantil que incomoda e a tal tecnologia de 48 quadros por segundo, que deixa a imagem com cara de produção feita para a TV. O resultado final é divertido e menos chato do que parecia, o que já é muito.